1. HOJE
céu de
bladerunner
cinza azul
violáceo
fim de tarde
as nuvens
baixas sobre nossas cabeças
transformam as
cores em tons de púrpura
telhados
refletidos e cachorros latindo
o telefone toca
e a vontade é de não atender
alô
era o vendedor
não
não vai chover
sobre nossas cabeças
não
nem prenúncio
de precipitação
nem gota
perdida
céu chumbo seco
de outono
ar que não
respiro
mais um trajeto
curto esbanjando diesel
e a noite caí
e a lua cresce
mas a ar odor
permanece
diariamente
produzindo
corpos mentes doentes
no corre corre
esbaforido pelas calçadas
no trânsito
estúpido entupido das esquinas
nas filas das
clínicas corredores hospitalares
não vai chover
pelos próximos dias
nem nunca
repete
minha cabeça
pesada e poluída
enquanto os
tons de céu púrpura violáceo
dão lugar a luz
tosca do poste em frente à casa
noite alguma
existe
perambulo
atentamente entre as palavras
respiro pouco
bebo água e
uisque no mesmo copo
no mesmo corpo
cigarro
catarro
poeira
anseio de
chuveiro
água de chuva
cheiro de chuva
terra molhada
suores
ardores
tremores
que fosse esse
o fim
distante dos
melhores vinhos
tão longe de
Paris
meu último
gesto de ternura
um gosto de
lágrima futura
que lentamente
se inaugura
lágrimas de ácido na chuva de memórias
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