segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

minha cidade: a terra inteira

Quarta-feira, Maio 31, 2006

meu caro

espero que tenha chegado bem
nessa viagem
e que seu destino
seja tão certo
quanto o nascer dos dias
tão doce
quanto as jabuticabas
no verão
eu
ainda estou aqui
esperando o dia
da partida
como quem espera
num corredor lotado
a sua vez
contando os dias
e as horas
prisioneiro que sou
deste reverso
calculo matematicamente
todas as possibilidades
do imprevisível
estendo minhas noites
sobre o diário das viagens
alheias
como se fossem minhas
só minhas
e sonho
extensão do ser
intenção do verbo
nem saí daqui e já estou viajando


domingo, 27 de fevereiro de 2011

aparte

a arte que
imita a vida
a vida que é arte
em toda parte
é filme
é fim de tarde
repare
desperte
dispare
que é arte
o que a gente
reparte

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

nada pessoal

foda-se a realidade
foda-se o tempo inteiro
foda-se a verdade
foda-se companheiro

foda-se
se o telefone
não funciona
foda-se
se a lâmpada
queimou
se as contas
não estão pagas
se o dinheiro
acabou
fodam-se
as coisas da casa
fodam-se
os seus artifícios
fodam-se
todas as tardes
fodam-se
as situações difíceis
se o carro
está quebrado
ou se está sem
combustível
se a comida
está cara
e acaba
apodrecida
foda-se
sem amorrr mesmo
foda-se
ao extremo
foda-se
com letras maiúsculas
foda-se
qualquer desejo
foda-se
se for capaz
foda-se
se não quer mais
foda-se
antes do almoço
foda-se
meu rapaz

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

γλκὑῤῥιζα


desejo de alcaçuz
de cachou
de potters
de Glycyrrhiza
regalèssia
desejo de monalisa
morfina
tragédia

desejo de caju
de cupuaçu
de pitanga
bacuri
felicidade
ópio
pequi
diversidade

desejo
andar
a vontade
toda nua
pele e pelo
na rua
de sua
cidade

(feito tatuagem)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

longe de mim (só saudades)


" só pode ser maldição
desejar tanto assim
não há outra explicação
sangro quando estás longe de mim

que frio, que solidão
se partes para Berlim
sangro quando estás longe de mim

pra África, Afeganistão
pra PQP, pra Pequim
sangro quando estás longe de mim
de dia nada tá bom
de noite tudo é ruim

eu sofro mais que o cão
eu travo, eu como capim
sangro quando estás longe de mim
enfio os pés pelas mãos
tomo pileques de gin
sangro quando estás longe de mim
encrenco com meu patrão
não cuido mais do jardim

não toco mais violão
não toco mais bandolim
sangro quando estás longe de mim
me toca ter convulsão
me toca cólica nos rins
sangro quando estás longe de mim
me toca palpitação se partes pro Tocantins

só pode ser maldição
desejar tanto assim
não há outra explicação
sangro quando estás longe de mim"

itamar assumpção - pretobrás II - maldita vírgula

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

outro lugar

a casa os canais
o mar do outro lado
o mar andar
de bicicleta e ver
o mundo todo
rodar girar
entardecer
de outro lugar
distante
se o mundo fosse
tão pequeno
antes
ouviria os sinos
os brados
se o mundo fosse
justo
a beleza se dividiria
em pétalas
que choveriam
só pra você

se acaso os canais
interromperem o fluxo
e os diques da cidade
não suportarem a força
de Posseidon
reza aos deuses todos
desvia o curso do destino
oferece a dádiva
da lembrança
toda distância
é pura imaginação
descansa do seu cansaço
enche os olhos
de alegria
canto que atravessa o dia
sereia que seria
o sonho de estar aí

um dia